O tratamento dos gliomas cerebrais (tumores cerebrais primários, ou seja, que se originam no cérebro) é realizado com cirurgia, que busca a máxima ressecção segura possível. A cirurgia deste tipo de tumor cerebral pode ser seguida por quimioterapia e/ou radioterapia.
É importante frisar o termo SEGURA da frase acima, pois o princípio da não-maleficência de Hipócrates, primum non nocere ou primeiro não prejudicar, deve orientar o tratamento dos pacientes com tumores cerebrais.
Vários estudos demonstram que o aumento da área de ressecção tumoral está associado com maior tempo de sobrevida em pacientes com glioma. Entretanto, a função neurológica do paciente deve ser mantida, ou seja, o objetivo deve sempre ser que, após a cirurgia, o paciente esteja igual ou melhor que antes da cirurgia.
A cirurgia com o paciente acordado foi desenvolvida como uma técnica para maximizar a ressecção tumoral, preservando as funções neurológicas.
Esta técnica evoluiu durante os últimos anos e se tornou uma ferramenta essencial para ressecção em alguns gliomas.
Enquanto o neurocirurgião realiza a ressecção tumoral ele estimula as áreas cerebrais próximas ao tumor. Um médico neurofisiologista acompanha o procedimento e monitora estes parâmetros, informando ao cirurgião se o estímulo está muito próximo a alguma área eloquente, uma área com importante função neurológica. Diante desta informação o neurocirurgião decide se pode ou não prosseguir com a ressecção do tumor ou se há outro local mais seguro para acessar o tumor.
Atualmente, a cirurgia com paciente acordado com monitorização intra-operatória tem se tornado padrão ouro para maximizar, de forma segura, a extensão da ressecção de tumores próximos ou em áreas cerebrais eloquentes (áreas responsáveis por importantes funções neurológicas, como a fala e a força muscular).
Ou seja, com esta técnica é possível alcançar maior extensão de ressecção do tumor, com menor risco de sequelas neurológicas pós-operatórias, promovendo maior tempo de sobrevida e mantendo a qualidade de vida do paciente.
Apesar de seus benefícios a cirurgia com paciente acordado não é necessária e nem indicada para todos os pacientes com tumor cerebral. Em casos em que não é necessária, é melhor que o paciente seja operado da forma “convencional”, com anestesia geral.
O neurocirurgião saberá indicar o melhor tratamento para cada caso.